sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lá vem o São João!!!!!

                                                  


Surpreendida por um enorme engarrafamento no final do dia, estacionei o carro pensando em "fazer hora" em um pequeno shopping. Pedi um chocolate quente e sem nada para ler ou fazer, fiquei observando um grupo de pessoas trabalhando.
 A minha volta crianças brincavam e corriam barulhentas. Funcionários do shopping, adolescentes uniformizados, crianças e tantos outas pessoas assim como eu passavam indiferentes. À medida que o tempo passava e o trabalho progredia, saí do meu nada, e vi! Vi, as primeiras bandeirinhas da decoração para as festas de São João serem penduradas...
Imediatamente as crianças correram gritando para contar aos adultos a novidade. De repente todos a minha volta comentavam surprêsos a proximidade do mês de junho, festas juninas, fantasias, férias e viagens...

Sozinha com meus pensamentos e lembranças, deixei minha alma vagar no tempo, resgastar meu passado. Mergulhei em dias vividos entre tantas pessoas que já partiram e outras tantas por aqui que viveram comigo momentos felizes onde dividíamos alegrias, reencontros, ternura, amor e sobretudo fraternidade. Senti forte a ausência dos meus queridos que tornaram durante tantos anos o mês de junho, o melhor e mais aguardado do ano. Senti saudade dos meus irmãos, primos e tios ainda vivos, que não abraço com a frequência que gostaria.  Um misto de saudade e de ausências me transportaram para um passado que tanto amei. O tempo passado entre brincadeiras, fogos e aventuras inesquecíveis e inconsequentes.

As férias de junho chegavam com muita alegria para nós quando viajávamos para a fazenda da minha bisavó Dindinha. Lá era o local onde nossas famílias se reuniam todos os anos...
De mãos dadas com o passado viajei pelas estradas precárias e pelas chuvas que nos proporcionavam grandes aventuras na subida da serra da Borborema. Levávamos um dia inteiro de viagem naquele tempo. Hoje realizamos o mesmo percurso em menos de três horas.
Fugia correndo com meus irmãos e primos para o banho no Rio Curimataú. Senti o aroma da colônia Roger Gallet da minha bisavó, o cheiro de banho toamdo nos abraçando da minha doce e amada Dindinha no ar. Por onde andarão os anjos da guarda que nos valiam a seu pedido durante nossa estadia em sua fazenda? E os cheiros da  cozinha, dos tachos de doce de leite, manteiga e queijo que movimentavam tantas pessoas o dia inteiro?  E as linguiças penduradas na corda por cima do fogão a lenha? Ainda lembro e sinto todos os cheiros daqueles junhos juninos. Tenho ainda em meus olhos nossa imagem pela manhã bem cedo, em fila, com nossos pijamiminhas de flanela feitos pela nossa mãe tomando leite cru tirado do peito da vaca na hora. Lembro com carinho dos leitos improvisados para acomodar tantos chegados, esperados ou de passagem ...  Ainda vejo, passado tantos anos, a fumaça subindo dos pratos colocadaos à mesa para nossas refeições em família. Não sentíamos fome, não queríamos perder tempo, mas, a magia daqueles momentos nos encantavam. Hora das sobremesas e das conversas alegres dos adultos. Aproveitávamos o relaxamento em nossa vigilancia e disfarçadamente escapulíamos. Hora de traquinagens...Vontade de pegar e abraçar as roupas lavadas e penduradas  ao vento nos varais e cordas para secar... Do anil, usado para clarear os lençois que jogávamos  no rio para apreciarmos o efeito do azul  diluindo  na agua. .. Ainda respiro o respeito que os adultos sentiam pelas águas das enchentes daqele rio que desafiávamos em nossas inocentes brincadeiras. Do terreno desconhecido por  onde fugíamos e exercitávamos nossa criatividade.

Desbravávamos estradas sem temor e precaução. O castigo na volta era certeiro mas o sabor da aventura valia qualquer sacrifício. Sabíamos e sentíamos o quanto éramos amados, cuidados e desejados. Sentíamos tanta proteção a nossa volta que perdíamos o limite do medo e da cautela. Corriamos, abraçavamos, chorávamos e brigavamos a vista de todos.  Desconheciamos o mico. Vivíamos... Nos expressávamos com gestos, palavras e olhares buliçosos e cúmplices. Partíamos para o desconhecido desafiando e vencendo o medo a procura do nada. À noite, com os olhos ardendo de sono e cansaço, éramos presenteados com a quebra do pote com prendas, o pau de sebo, a queima da fogueira e do  show dos fogos de artifício. Recebiamos das mãos adultas nosso quinhão de fogos e partíamos para realizar no céu imediato acima das nossas cabeças, as luzes e desenhos dos nossos sonhos, sob os olhares atentos e cuidadosos dos adultos. Completamente exaustos, sujos e extasiados, deitávamos nossas cabeças na cama e dormíamos sem ainda conhecer a existência do amanhã. Pela manhã acordariamos sem saber que viviamos os melhores e mais inesquecíveis momentos das nossas vidas. Naqueleas férias, dentro daquela casa, sob aqueles olhares, sobre aquela terra corriamos despreocupados. Éramos apenas crianças. Só precisávamos do vento para soltar pipa, do rio para pescar e dos anos que passariam para lembrar e sentir saudades......