domingo, 12 de dezembro de 2010

Fazendo um Panetone

Os dias vão passando... De repente, somos surpreendidos por um panetone no supermercado. É o primeiro sinal de que o natal está chegando e o ano, acabando. Eu particularmente fico feliz porque amo com todas as minhas energias este italiano cheiroso, bonito, gostoso e irresistível! Começo a pesquisar as novidades, tentando ganhar tempo para escolher aquele que vou devorar praticamente de uma vez só. Não consigo comer apenas uma fatia. Não dá mesmo! Aqueles que também adoram vão me entender e perdoar. Tem uma variedade imensa de marcas, formatos, tamanhos e sabores. Tradicionais, trufados, com gotas de chocolate, com sorvete, e tantos mais... E as embalagens? Cada uma mais linda e original. Artezanais, nacionais ou importados. Um colírio para os olhos. Uma tentação para a gula.  Simples ou sofisticados, tem para todos os gostos e bolsos.
Eu prefiro o tradicional!

Pesquisei algumas curiosidades na Associação Italiana sobre o meu amado panetone. Vamos conhecê-las.
O pantone recheado com frutas e uvas secas é uma tradição Cristã, típica do Natal italiano. Contam que ele teria sido criado na cidade de Milão, não se sabe ao certo por quem e em qual data.
Há diferentes versões para o surgimento do panetone: A primeira é que o produto teria nascido no ano 900, inventado por um padeiro chamado Tone que o teria feito para “impressionar” o futuro sogro. Por isso, o bolo teria ficado conhecido como pane-di-Tone. A segunda versão diz que Gian Galeazzo Visconti, primeiro duque de Milão, preparou o produto para uma festa em 1395. E a outra versão conta que um certo Ughetto resolveu se empregar numa padaria para poder ficar perto da sua amada Adalgisa, filha do dono. Ali ele teria inventado o panetone, entre 1300 e 1400. Feliz com a novidade, o padeiro permitiu que Ughetto se casasse com Adalgisa.
No Brasil, a receita original teria chegado em 1952, trazida pelo italiano Carlo Bauducco. O pioneiro começou a prepará-la em São Paulo, na doçaria que abriu no Brás. Em seguida, a antiga Dulca, do centro da cidade, também passou a fazer panetone. Os brasileiros comem, atualmente, 20 mil toneladas de panetone. O consumo se concentra entre os meses de outubro e dezembro. Mas ainda está longe da Itália, que come 160 mil toneladas.

Vou postar uma receita  aqui, mas... vou avisando:
O preparo leva tempo e é trabalhoso. Coragem. É uma boa e deliciosa causa!
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RECEITA DO PANETONE TRADICIONAL

Ingredientes:

  • ½ xícara (chá) de açúcar
  • ½ xícara (chá) de óleo de milho
  • 1 xícara (chá) de leite
  • 1 cxícara (chá) de mel
  • 1 colher (chá) de sal
  • 1 colher (sopa) de essência de panetone
  • 2 gemas
  • 2 ovos
  • 4 tabletes de fermento biológico
  • 500 grs de frutas cristalizadas
  • 7 xícaras (chá) de farinha

MODO DE fAZER


Misture o leite e o açúcar e leve ao fogo até amornar. Ponha numa tigela, junte o fermento e mexa até dissolver. Junte 1 xícara de farinha, mexendo até a massa ficar homogênea. Cubra com película aderente e deixe descansar durante 30 minutos em local aquecido.
Enquanto isso, leve o óleo e o mel ao fogo até levantar fervura. Retire e deixe amornar um pouco. Junte os ovos, as gemas e a essência de panetone, batendo sempre. Reserve.
À parte, misture a farinha restante com o sal. Adicione à massa já crescida o creme de ovos, alternado com a farinha, misturando sempre.
Em seguida, ponha a massa numa superfície polvilhada e bata durante 15 minutos, ou até esta se soltar das mãos.
Coloque a massa numa tigela, cubra novamente com película aderente e deixe crescer durante mais 45 minutos em local aquecido.
Abra a massa e espalhe as frutas cristalizadas. Enrole como se fosse uma torta e distribua em 2 formas de papel próprias para panetone com capacidade para 500 gramas cada uma. Ponha a massa até a metade da altura e deixe crescer por mais 30 minutos.

Ligue o forno na temperatura média e asse durante 45 minutos, ou até os panetones dourarem.
NOTA: Se tiver dificuldade em encontrar a essência de panetone, pode substituí-la por essência de baunilha e essência de laranja, na proporção de 2 partes de laranja para 1 de baunilha. A essência de panetone é a mistura destas duas.

Se você decidiu fazer, deve estar enebriado com o cheiro. É um aroma dos deuses. Inigualável!
Relaxe...
Deixe esfriar. Corte uma fatia generosa do pantone, encha uma bela taça de prosecco e se entregue ao pecado!

Família é prato difícil de preparar

Recebi este texto por email hoje de uma amiga muito querida. Fizemos um curso de pós graduação juntas e conversávamos muito sobre nossas famílias.  Tenho certeza que o envio foi por estas lembrança.sObrigada pelo presente. Caiu como uma luva pelas minhas tentativas de reunir a família agora no Natal. Fui pesquisar e descobri que o texto faz parte  de  um livro de autoria do escritor, roteirista e dramaturgo, Francisco Azevedo, O arroz de Palma. Vou comprar o meu exemplar imediatamente. Faça o mesmo. Tenho certeza que você vai se identificar.  É uma história de uma família comum, parecidíssima com qualquer uma: a minha, a da nossa vizinha, a sua... Casamentos, nascimentos, brigas, separações, intrigas, festejos e mortes. Tudo temperado com um ingrediente especial; o carinho do autor. 
 
O ARROZ DE PALMA
Autor: Francisco Azevedo
Editora: Record
Ano: 2008
1ª Edição
Número de Páginas: 364

A obra começa com Antônio, filho de José e Maria, aos 88 anos, preparando o almoço que será servido à família, finalmente reunida após muito tempo.

"Família é prato difícil de preparar.
São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo.
Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você?  É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas?
Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível.
Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher.
Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a  receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.  
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a  Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.  Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."

Agora que acabou de ler, confesse que identificou todos os personagens em sua família.
Eu adorei. E a capa do livro? Uma forma de bolo em forma de coração cheia de arroz. 
Tem coisa mais fofa e família?