Dionísio, junto com Apolo, formam a dicotomia mitológica grega dos opostos, emoção e razão. Apolo é um atleta e um cientista. É o belo, puro, equilibrado, sóbrio, defensor da lei e da ordem. Já Dionísio/Baco é passional, tem natureza instintiva, desinibida, entusiástica, criadora e desafiadora. Pouco lembrado é o fato deste não ser apenas o deus do vinho, mas também da fertilidade, da dança, do teatro e da música. O primeiro teatro do mundo foi construído no século IV a.C., na encosta oriental da acrópole de Atenas, Grécia. Comportava 14 mil pessoas, que vinham participar dos ritos dionisíacos da primavera.
Para o filósofo alemão Nietzsche, Dionísio é a própria essência da música. Esta, a mais pura das artes, não tem substância. Suas vibrações são uma sensação física, mas ela é invisível e impalpável. A música não nomeia coisas, como a linguagem verbal faz, atravessa assim barreiras defensivas da consciência e toca em pontos profundos da psique. Por isso é capaz de provocar, dionisiacamente, adesões apaixonadas ou recusas violentas, aparentemente inexplicáveis.
A sabedoria, contudo, está em ser ao mesmo tempo Apolo e Dionísio, numa assemblage adequada a cada momento, dentro da diversidade de cada ser humano. O mesmo vinho que aquece nossos corações, nos embriaga. Os gregos, um povo culto, viam estes fatos com lucidez, como disse Eubulus (355-346 a.C.), administrador de Atenas:
“As 10 taças de vinho:
Eu preparo três para o moderado, uma para a saúde, que ele sorverá primeiro; a segunda para o amor e o prazer, e a terceira para o sono. Quando essa taça acabar, os convidados sábios irão para casa. A quarta é a menos demorada, mas é a da violência. A quinta é a do tumulto, a sexta a da orgia, a sétima a do olho roxo, a oitava é a do policial, a nona a da ranzinzice e a décima a da loucura e da quebradeira”.
Eu preparo três para o moderado, uma para a saúde, que ele sorverá primeiro; a segunda para o amor e o prazer, e a terceira para o sono. Quando essa taça acabar, os convidados sábios irão para casa. A quarta é a menos demorada, mas é a da violência. A quinta é a do tumulto, a sexta a da orgia, a sétima a do olho roxo, a oitava é a do policial, a nona a da ranzinzice e a décima a da loucura e da quebradeira”.
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MARCELO COPELLO
Obrigada.
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